A Microsoft, na sua incessante busca por aprimorar a experiência de desenvolvimento e a colaboração no universo do Power BI, anuncia uma funcionalidade revolucionária na atualização de Julho de 2025: o Formato de Relatório Aprimorado do Power BI (PBIR) no modo de desenvolvedor do Power BI Desktop. Esta é uma novidade que promete transformar a maneira como equipes de Business Intelligence constroem, gerenciam e versionam seus ativos no Power BI, elevando a plataforma a um novo patamar de capacidade de engenharia de software.
Até então, o Power BI Desktop operava predominantemente com o formato binário `.pbix`, um arquivo monolítico que encapsula todos os componentes de um relatório: modelo de dados (Power Query, DAX), layout das páginas, visuais e suas configurações. Embora prático para usuários individuais, este formato apresentava desafios significativos em ambientes colaborativos, especialmente no que tange ao controle de versão (Git), fusão de alterações e automação de pipelines de integração contínua e entrega contínua (CI/CD). O PBIR chega para resolver essas dores, desempacotando o `.pbix` em uma estrutura de pastas e arquivos legíveis por humanos.
O Formato de Relatório Aprimorado (PBIR) é, em sua essência, uma representação textual do relatório do Power BI, utilizando principalmente o formato JSON para descrever seus componentes. Isso significa que, em vez de um único arquivo binário, teremos uma coleção de arquivos, cada um responsável por uma parte específica do relatório. Essa granularidade é a chave para a integração com ferramentas e processos de desenvolvimento de software maduros.
Para habilitar o modo de desenvolvedor e experimentar o PBIR, é necessário ativar uma opção específica no Power BI Desktop. Uma vez ativada, ao salvar um relatório, o Power BI Desktop irá criar uma pasta com o nome do projeto (e.g., `MeuRelatorio.Report`) contendo a estrutura PBIR, e um pequeno arquivo `.pbir` na raiz, que é o ponto de entrada para o relatório.
A estrutura de pastas e arquivos gerada pelo PBIR é intuitiva e bem organizada. Dentro da pasta `.Report`, você encontrará subpastas e arquivos cruciais que definem o relatório. A seguir, um exemplo da estrutura típica:
MeuRelatorio.pbir
MeuRelatorio.Report/
├── definition.pbir
├── item.config.json
├── model.json
├── pages/
│ ├── Page 1/
│ │ └── page.json
│ ├── Page 2/
│ │ └── page.json
│ └── ...
├── sections/
│ ├── ReportSection.json
│ └── ...
└── staticResources/
├── ... (imagens, ícones, etc.)
O arquivo `definition.pbir` atua como o ponto de entrada principal do relatório no formato PBIR. Ele contém metadados essenciais sobre o relatório, como a versão do PBIR, o caminho para o arquivo do modelo e quaisquer outras configurações globais. Este arquivo é crucial para que o Power BI Desktop consiga reconstruir o relatório a partir da estrutura de pastas.
{
"compatibilityLevel": 1.0,
"report": {
"sections": [
{
"id": "ReportSection"
}
]
},
"resources": [
{
"resourceId": "Model"
}
],
"usabilityMode": 0,
"version": "1.0"
}
Talvez o arquivo mais impactante para desenvolvedores seja o `model.json`. Este arquivo descreve o modelo semântico do Power BI em um formato JSON detalhado. Ele inclui definições de tabelas, colunas, relacionamentos, hierarquias, e, crucialmente, as medidas DAX. A capacidade de versionar e editar medidas DAX diretamente em um editor de texto ou IDE externo (como VS Code) é um divisor de águas. Imagine ter controle total sobre cada linha de DAX, com a capacidade de comparar versões, reverter alterações e integrar revisões de código.
Por exemplo, uma medida simples de vendas total em DAX seria representada no `model.json` da seguinte forma:
{
"name": "Sales",
"tables": [
{
"name": "FactSales",
"measures": [
{
"name": "Total Sales",
"expression": [
"SUM('FactSales'[SalesAmount])"
],
"formatString": "$#,0.00",
"description": "Calculates the total sales amount."
}
]
}
]
}
Esta representação textual permite que desenvolvedores DAX trabalhem com suas medidas de forma mais eficiente, aplicando práticas de engenharia de software como refatoração e testes automatizados. O mesmo princípio se aplica às definições de Power Query (M), embora estas sejam armazenadas de forma ligeiramente diferente dentro do modelo, mas ainda acessíveis e versionáveis.
As pastas `pages/` e `sections/` contêm as definições do layout visual do relatório. Cada página tem seu próprio arquivo `page.json` que descreve os visuais contidos nela, suas posições, tamanhos e propriedades. Isso abre portas para o desenvolvimento colaborativo de layouts de relatórios, onde diferentes membros da equipe podem trabalhar em páginas ou seções distintas do mesmo relatório em paralelo, minimizando conflitos ao mesclar as alterações.
Os benefícios do PBIR são multifacetados e impactam diretamente a produtividade e a robustez do desenvolvimento de BI:
1. **Controle de Versão Aprimorado:** A natureza textual dos arquivos PBIR os torna ideais para sistemas de controle de versão como Git. Desenvolvedores podem clonar repositórios, criar branches, realizar commits de alterações incrementais e mesclar o trabalho de forma eficiente. O "diff" entre versões se torna legível, facilitando a revisão de código e a identificação de alterações.
2. **Desenvolvimento Colaborativo:** Múltiplos desenvolvedores podem trabalhar no mesmo relatório simultaneamente, com cada um focando em diferentes partes (medidas, páginas, consultas). A capacidade de mesclar as alterações reduz gargalos e acelera o ciclo de desenvolvimento.
3. **CI/CD e Automação:** A estrutura de arquivos permite a automação de testes e implantações. Ferramentas de CI/CD podem ser configuradas para validar o código DAX, M ou até mesmo as definições visuais antes da publicação, garantindo a qualidade e consistência dos relatórios. É possível, por exemplo, escrever scripts que validem a presença de medidas específicas ou padrões de formatação.
4. **Edição Externa:** Medidas DAX e consultas M podem ser editadas diretamente em IDEs externos como VS Code, que oferecem recursos avançados de edição, formatação, linting e até mesmo depuração (com extensões apropriadas), proporcionando uma experiência de desenvolvimento superior.
5. **Revisão de Código e Qualidade:** A revisão de código se torna mais eficaz quando o código é legível. Equipes podem implementar revisões de código formais para garantir que as melhores práticas de DAX e design de relatórios sejam seguidas.
É importante ressaltar que o PBIR está sendo lançado em modo de visualização. Isso significa que, embora robusto, pode haver limitações e funcionalidades que ainda estão em desenvolvimento ou que serão aprimoradas em futuras iterações. Por exemplo, a edição manual de todos os arquivos JSON pode ser complexa e requer um entendimento aprofundado da estrutura interna do Power BI. No entanto, o Power BI Desktop atua como o orquestrador principal, traduzindo as alterações de volta para o formato de relatório coeso.
A introdução do Formato de Relatório Aprimorado (PBIR) na atualização de Julho de 2025 marca um momento crucial para o ecossistema do Power BI. Ela eleva o desenvolvimento de relatórios de BI a um nível de maturidade de engenharia de software, abrindo as portas para práticas de DevOps, colaboração sem precedentes e automação robusta. É um passo fundamental para transformar o Power BI não apenas em uma ferramenta de visualização, mas em uma plataforma completa para o desenvolvimento de soluções de inteligência de negócios em escala empresarial.
Para explorar essa nova era de desenvolvimento de Power BI, clique no botão abaixo.

